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A Misteriosa Febre que Volta Todo Mês: Entendendo e Tratando a Síndrome PFAPA

  • Foto do escritor: Bruno Rossini
    Bruno Rossini
  • 25 de nov.
  • 6 min de leitura

Poucas situações geram tanta angústia no coração dos pais quanto ver um filho adoecer repetidamente, com uma febre alta que parece ter hora marcada para chegar. É um ciclo exaustivo: a criança brinca, está saudável e, de repente, a temperatura sobe, a garganta inflama, surgem aftas e gânglios no pescoço. Antibióticos são prescritos, muitas vezes sem necessidade, e a frustração aumenta quando os exames de cultura para bactérias retornam negativos.

Se essa história soa familiar, é possível que estejamos diante de um quadro fascinante e desafiador da otorrinolaringologia pediátrica: a Síndrome PFAPA. O acrônimo, que vem do inglês, descreve seus sinais clássicos: Febre Periódica, Estomatite Aftosa, Faringite e Adenite (inflamação dos gânglios). Diferente das infecções comuns que as crianças "pegam" na escola, a PFAPA não é contagiosa; é uma condição inflamatória intrínseca.

Como médico especialista com duas décadas de atuação, observo que o diagnóstico da PFAPA é, antes de tudo, clínico e de exclusão. Não existe um exame de sangue único que "acenda uma luz vermelha" confirmando a síndrome. O diagnóstico nasce da escuta atenta da história da família e da regularidade quase matemática das crises, que costumam ocorrer a cada 3 a 5 semanas.

A ciência moderna tem avançado muito na compreensão do que causa esse "relógio biológico da febre". Estudos de centros de referência mundial, corroborados por pesquisas na USP e UNIFESP, indicam que a PFAPA não é uma falha de imunidade no sentido de "imunidade baixa". Pelo contrário, trata-se de uma desregulação da imunidade inata.

Para simplificar, imagine que o sistema de defesa da criança possui um alarme muito sensível. Em pacientes com PFAPA, esse alarme dispara sem que haja um invasor real (como um vírus ou bactéria), desencadeando uma tempestade inflamatória. Há evidências consistentes ligando essa reação a fatores genéticos, incluindo associações com o gene MEFV, embora a presença desse gene não dite, isoladamente, o sucesso do tratamento.

O impacto na qualidade de vida da família é imenso. As crises frequentes significam dias perdidos de escola, noites mal dormidas e o uso excessivo de medicações sintomáticas. Diante disso, a decisão sobre como tratar deve ser tomada com serenidade, pesando riscos e benefícios, sempre baseada nas melhores evidências disponíveis.

Existem, basicamente, dois caminhos: o tratamento medicamentoso e o cirúrgico. No campo medicamentoso, o uso de corticosteroides (como a prednisona ou betametasona) em dose única no início dos sintomas é quase "mágico". A febre cessa abruptamente. No entanto, estudos alertam para um efeito rebote: o uso de corticoide pode encurtar o intervalo entre as crises, fazendo a febre voltar mais cedo no mês seguinte.

Para tentar espaçar as crises sem recorrer à cirurgia, utilizamos opções como a colchicina e a cimetidina. Ensaios controlados demonstraram que essas substâncias podem ser eficazes na profilaxia, reduzindo a frequência e a intensidade dos episódios febris. É uma estratégia conservadora válida, especialmente para crianças cujas crises não são tão severas.

Contudo, quando o tratamento clínico falha ou a frequência das crises se torna insustentável, a cirurgia entra em pauta. A amigdalectomia (remoção das amígdalas), associada ou não à adenoidectomia, tem sido objeto de intenso debate científico e é uma das ferramentas mais poderosas que temos.

Uma revisão sistemática e meta-análise recente trouxe dados robustos: a amigdalectomia mostrou-se eficaz na redução dos sintomas persistentes em cerca de 72% dos casos. A hipótese mais aceita é que as amígdalas atuam como um "nicho" ou gatilho para essa inflamação desregulada. Ao removê-las, eliminamos o foco da ativação imune exacerbada.

Por outro lado, sabemos que PFAPA é uma condição autolimitada que tende a desaparecer com o crescimento da criança. Ou seja, a cirurgia antecipa a cura, resolvendo o problema "agora", enquanto a conduta expectante aguarda a resolução natural ao longo dos anos.

A escolha, portanto, não é sobre "qual é o melhor tratamento absoluto", mas qual é o melhor tratamento para aquela criança e aquela família naquele momento. Para pais exaustos e crianças que perdem muitas aulas, a resolução rápida proporcionada pela cirurgia (amigdalectomia total ou parcial) pode ser um divisor de águas na qualidade de vida.

O procedimento cirúrgico evoluiu muito. Hoje, utilizamos técnicas minimamente invasivas que priorizam a segurança e o conforto pós-operatório. A decisão de operar deve ser amadurecida em consultório, avaliando a gravidade das crises, a resposta aos medicamentos prévios e o impacto social da doença na vida do pequeno paciente.

Ressalto que, mesmo nos casos em que optamos pela cirurgia, a avaliação pré-operatória minuciosa é indispensável para descartar outras síndromes de febre periódica hereditária mais raras, que não responderiam à remoção das amígdalas. A precisão diagnóstica é a chave do sucesso.

Na Clínica Oto One, compreendemos a angústia que essas febres recorrentes causam. Por isso, oferecemos um atendimento humanizado, personalizado, com acolhimento e excelência técnica, seja em consultas presenciais ou on-line. Nosso objetivo é acolher sua família e traçar a estratégia mais segura, respeitando a individualidade biológica do seu filho.

A medicina não é uma ciência exata, mas é uma ciência humana. Entender a patogênese da PFAPA nos permite sair do escuro e oferecer luz aos pais. Saber que não é culpa de uma "imunidade fraca" e que existem caminhos claros de tratamento traz alívio imediato.

Seja optando pelo controle medicamentoso com colchicina ou pela resolução cirúrgica, o importante é que a criança seja acompanhada de perto por um especialista. O objetivo final é sempre devolver à criança a infância plena, sem interrupções constantes por dias de prostração e dor.

A otorrinolaringologia moderna nos permite intervir de forma assertiva para restaurar o equilíbrio da saúde. A PFAPA, embora desafiadora, é uma condição benigna e que, com o manejo correto, deixa de ser um pesadelo mensal para se tornar apenas uma página virada na história clínica do paciente.

Não normalize o sofrimento recorrente do seu filho. Febre que tem data marcada para voltar não é normal e merece investigação. A saúde plena é o alicerce para o desenvolvimento infantil, e estamos aqui para garantir que esse alicerce seja sólido.

Convido você a agendar uma avaliação. Juntos, podemos decifrar esse ciclo de febres e devolver a tranquilidade à rotina do seu lar. A solução pode estar mais próxima do que você imagina.


Perguntas e Respostas sobre Síndrome PFAPA


  1. A Síndrome PFAPA é contagiosa? Não. A PFAPA não é causada por vírus ou bactérias transmissíveis. É uma condição inflamatória não contagiosa, decorrente de uma desregulação do sistema imunológico da própria criança.

  2. A cirurgia de remoção das amígdalas cura a PFAPA? Estudos, incluindo meta-análises, indicam uma taxa de sucesso de cerca de 72% a 90% na resolução completa dos sintomas após a amigdalectomia, sendo considerada uma opção curativa altamente eficaz.

  3. O uso de corticoide pode piorar a síndrome? O corticoide é excelente para abortar a crise de febre aguda, mas seu uso frequente pode encurtar o intervalo entre os episódios, fazendo com que a criança adoeça com mais frequência.

  4. Existe algum exame de sangue que confirma a PFAPA? Não existe um marcador laboratorial específico. O diagnóstico é clínico, baseado na regularidade das crises e na exclusão de outras doenças. Exames genéticos podem ser usados para descartar outras síndromes febris.

  5. A criança com PFAPA tem imunidade baixa? Não. Na verdade, o sistema imune inato dessas crianças é "ativo demais", reagindo de forma exagerada e causando inflamação sem a presença de uma infecção real.

  6. Qual a idade mais comum para o aparecimento da PFAPA? A síndrome geralmente se manifesta na primeira infância, entre 1 e 5 anos de idade, mas pode persistir ou iniciar (mais raramente) em crianças mais velhas.

  7. A colchicina é segura para crianças? Sim, quando prescrita e monitorada por um especialista. A colchicina tem se mostrado eficaz em reduzir a frequência das crises e é uma opção de tratamento preventivo (profilático).

  8. Se eu não operar, a doença desaparece sozinha? A tendência natural da PFAPA é ser autolimitada, desaparecendo espontaneamente com o crescimento da criança, geralmente antes da adolescência. A cirurgia visa antecipar essa resolução para melhorar a qualidade de vida atual.

  9. A amigdalectomia parcial funciona para PFAPA? Sim. Tanto a remoção total quanto a parcial (amigdalectomia intra capsular) demonstraram eficácia na redução dos sintomas, pois removem o foco inflamatório local.

  10. Aftas na boca sempre indicam PFAPA? Nem sempre. Aftas isoladas são comuns. Na PFAPA, elas surgem acompanhadas de febre alta, faringite e gânglios, respeitando uma periodicidade regular.

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Dr. Bruno Rossini (CRM-SP 115697; RQE:34828)

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