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Abordagem Complexa da Otite Externa Eczematosa

  • Foto do escritor: Bruno Rossini
    Bruno Rossini
  • 6 de ago.
  • 7 min de leitura

Atualizado: 25 de ago.

Prezado paciente,

Como médico otorrinolaringologista, compreendo que a otite externa dermatológica (ou eczematosa) é uma das condições mais frustrantes e recorrentes que encontramos no consultório. Diferente de uma simples infecção de verão, ela representa uma condição crônica da pele do canal auditivo, exigindo uma abordagem que vai muito além do tratamento de uma crise aguda.

Para desmistificar e aprofundar o conhecimento sobre este tema, reuni e sintetizei as informações de diversas fontes para criar um guia completo em formato de 20 perguntas e respostas.

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Otite Externa Dermatológica: 20 Perguntas Essenciais



Bloco 1: Fundamentos e Definições


1. O que é, exatamente, a Otite Externa Eczematosa/Dermatológica?

Resposta: É uma inflamação crônica e não infecciosa da pele que reveste o conduto auditivo externo. Diferente da otite externa bacteriana ("otite de nadador"), onde a infecção é a causa primária, aqui o problema fundamental é uma alteração da própria pele, que se torna inflamada, sensível e com sua barreira de proteção comprometida. Esta pele fragilizada, então, torna-se um alvo fácil para infecções secundárias por bactérias ou fungos.


2. Existem tipos diferentes de Otite Externa Dermatológica?

Resposta: Sim. "Eczematosa" ou "Dermatológica" são termos guarda-chuva. Podemos especificar alguns subtipos principais:

  • Otite Externa Atópica: Associada à dermatite atópica. A pele do conduto é seca, descamativa e o prurido (coceira) é o sintoma predominante. Geralmente ocorre em pacientes com histórico pessoal ou familiar de asma e rinite alérgica.

  • Otite Externa Seborreica: Ligada à dermatite seborreica ("caspa"). A pele apresenta escamas amareladas e gordurosas. É quase sempre acompanhada por seborreia no couro cabeludo, sobrancelhas e sulcos do nariz.

  • Otite Externa de Contato (Reativa): Causada por uma reação alérgica ou irritativa a algo que entra em contato com a pele, como componentes de gotas otológicas, metais de brincos (níquel), aparelhos auditivos, ou produtos como xampus e tinturas de cabelo.


3. Qual a diferença fundamental entre a Otite Externa Eczematosa e a "Otite de Nadador"?

Resposta: A diferença está na causa raiz. A Otite de Nadador é primariamente uma infecção bacteriana causada pela umidade excessiva que macera uma pele previamente saudável. Já na Otite Externa Eczematosa, a pele já é doente e inflamada; a umidade ou um pequeno trauma são apenas gatilhos que levam a uma crise ou a uma infecção secundária sobre uma pele já fragilizada.


4. A inflamação no ouvido tem relação com doenças em outras partes do corpo?

Resposta: Absolutamente. A pele do ouvido não é isolada. A Otite Externa Eczematosa é frequentemente uma manifestação local de uma condição sistêmica. As principais relações são com a Dermatite Atópica (pacientes com histórico de "bronquite", asma e rinite) e a Dermatite Seborreica (caspa no couro cabeludo). Ignorar o tratamento dessas condições em outras partes do corpo pode levar à falha no controle da otite.


Bloco 2: Causas, Gatilhos e Fatores de Risco


5. Qual o papel da cera nesta condição? A falta dela é um problema?

Resposta: Sim. A cera (cerume) é a camada de proteção natural do ouvido. Ela é ácida, gordurosa e contém enzimas que inibem o crescimento de bactérias e fungos. Pacientes com otite eczematosa, ou aqueles que limpam o ouvido de forma agressiva, removem essa camada protetora, expondo a pele frágil a irritantes e infecções.


6. Quais são os principais irritantes e gatilhos que pioram o quadro?

Resposta: Os principais vilões são:

  • Água: Principalmente em excesso (natação, banhos demorados). Ela macera a pele, altera o pH e remove os óleos protetores.

  • Trauma Mecânico: O uso de hastes flexíveis (cotonetes), unhas, grampos ou qualquer objeto para coçar. Isso causa microlesões que são portas de entrada para infecções.

  • Produtos Químicos: Xampus, condicionadores, sabonetes, sprays de cabelo e tinturas que escorrem para dentro do ouvido.

  • Abafamento: Uso prolongado de fones de ouvido (earpods), aparelhos auditivos ou protetores auriculares que aumentam a umidade e o calor no local.

  • Estresse Emocional: Pode ser um gatilho importante para crises em muitas doenças de pele, incluindo o eczema.


7. Por que o cotonete é considerado o inimigo número um da saúde do ouvido?

Resposta: Por duas razões principais: primeiro, ele remove a camada de cera protetora, deixando a pele vulnerável. Segundo, ele causa microtraumas e fissuras na pele delicada do conduto, além de poder empurrar a cera para o fundo, criando uma rolha que retém umidade e detritos.


8. Por que essa condição é crônica e parece nunca curar de vez?

Resposta: Porque ela não é uma simples infecção que se trata com um antibiótico. Ela é uma característica inerente da pele do paciente, assim como a asma é uma característica do pulmão. O tratamento visa controlar os sintomas, espaçar as crises e restaurar a função de barreira da pele, mas a predisposição para a inflamação permanecerá, exigindo cuidados contínuos.


Bloco 3: Quadro Clínico e Diagnóstico


9. Quais são os sintomas mais comuns da Otite Externa Dermatológica?

Resposta: O sintoma cardinal e mais universal é o prurido (coceira). Outros sintomas incluem: descamação (pele "soltando"), sensação de ouvido seco ou, paradoxalmente, úmido, e plenitude aural (ouvido tampado). Dor e secreção geralmente indicam uma crise aguda ou infecção secundária.


10. Como os sintomas mudam entre a fase crônica e a fase aguda (crise)?

Resposta:

  • Fase Crônica (manutenção): Predomina a coceira, a descamação (casquinhas secas ou gordurosas) e a pele pode parecer mais espessa.

  • Fase Aguda (crise): A coceira se intensifica e surge dor intensa, vermelhidão, inchaço (edema) que pode fechar o canal, e secreção (que pode ser aquosa/clara no eczema puro, ou purulenta/amarelada se houver infecção bacteriana).


11. Como o médico faz o diagnóstico? São necessários muitos exames?

Resposta: O diagnóstico é primariamente clínico. Ele se baseia na história do paciente (presença de alergias, dermatites, uso de cotonetes) e no exame físico com o otoscópio. Na otoscopia, o médico observa os sinais característicos: ausência de cera, pele avermelhada, seca, espessada ou com escamas. Exames são solicitados em casos específicos: cultura da secreção se houver suspeita de infecção resistente, ou testes de contato (patch test) se a suspeita for de dermatite de contato alérgica.


Bloco 4: Tratamento da Crise Aguda


12. Tive uma crise de dor e coceira intensa. Qual o primeiro passo do tratamento?

Resposta: O primeiro e mais crucial passo é a limpeza profissional do conduto auditivo. O médico, através de micro-aspiração, remove todas as escamas, crostas e secreções. Sem essa limpeza, as gotas de medicação não conseguem atingir a pele doente, tornando o tratamento ineficaz. Cuidado ao utilizar a irrigação com água (lavagem) numa crise, pois isso piora a maceração da pele.


13. Que tipo de medicação é usada para tratar uma crise?

Resposta: O tratamento se baseia em:

  • Corticosteroides Tópicos: São a base para controlar a inflamação. São usados em gotas ou cremes.

  • Antibióticos Tópicos: Apenas se houver infecção bacteriana secundária. Geralmente são usados em formulações que já combinam antibiótico com corticoide.

  • Corticosteroides Orais: Em casos de inchaço muito severo que fecha o canal, um curso curto (5-7 dias) de corticoide oral (ex: Prednisona) pode ser necessário.

  • Analgésicos: Para controle da dor nos primeiros dias.


14. Uma vez iniciado o tratamento, posso voltar a molhar o ouvido?

Resposta: Não. É fundamental manter o ouvido completamente seco durante toda a fase de tratamento e recuperação. A água é o principal fator que perpetua a inflamação e a infecção. Use um algodão com vaselina ou um protetor de silicone para proteger o ouvido durante o banho.


15. Ouvi dizer que a secreção pode ser pastosa e difícil de remover. Isso é verdade?

Resposta: Sim. Especialmente em casos crônicos, a mistura de pele descamada, cera e secreção pode formar uma massa pastosa, glutinosa, descrita como "manteiga mole". Isso torna a limpeza por aspiração um desafio técnico para o médico, mas ainda assim é o método de escolha.


Bloco 5: Manutenção e Prevenção de Novas Crises


16. A crise passou. O que faço para evitar que ela volte?

Resposta: A prevenção é a parte mais importante do tratamento e envolve mudanças no estilo de vida:

  • ABANDONE as hastes flexíveis (cotonetes) permanentemente.

  • PROTEJA os ouvidos da água durante o banho e evite natação se você for muito suscetível.

  • SEQUE a orelha apenas por fora, com a ponta de uma toalha, após o banho.

  • TRATE as condições de base, como a dermatite seborreica do couro cabeludo.

  • EVITE fones de ouvido por tempo prolongado.


17. Existem tratamentos de manutenção para o dia a dia?

Resposta: Sim. O objetivo é restaurar a barreira de proteção da pele. Duas estratégias são excelentes:

  • Hidratação: Usar gotas de óleo mineral ou de oliva algumas vezes por semana pode ajudar a hidratar a pele e a prevenir o ressecamento e a coceira.

  • Acidificação: Gotas com ácido acético podem ser usadas para acalmar a coceira e restaurar o pH ácido natural do ouvido, tornando-o menos hospitaleiro para bactérias.


18. Então, como devo limpar meus ouvidos?

Resposta: A regra de ouro é: limpe apenas o que se vê. Use o dedo com uma toalha fina para limpar a parte externa (pavilhão auricular). O canal auditivo é autolimpante. Se sentir que há acúmulo de cera ou pele, procure seu otorrinolaringologista para uma limpeza profissional.


19. E se a minha coceira for compulsiva e eu não consigo parar de mexer no ouvido?

Nesse caso, podemos estar diante de uma Neurodermatite. A base do problema é um distúrbio psicológico (ansiedade, compulsão) que se manifesta como um ciclo vicioso de coceira-trauma. O tratamento local sozinho não funcionará. Pode ser necessário uma abordagem multidisciplinar para tratar a causa da compulsão.


20. Para finalizar, quais são as 3 coisas que eu DEVO fazer e as 3 que eu NUNCA devo fazer?


  • O QUE FAZER:

    1. Hidratar: Use gotas oleosas regularmente para manter a pele saudável.

    2. Proteger: Mantenha a água e o xampu longe do canal auditivo.

    3. Tratar a Base: Cuide da dermatite no couro cabeludo e em outras áreas do corpo.

  • O QUE NUNCA FAZER:

    • Usar Cotonetes: Nunca introduza hastes flexíveis ou qualquer outro objeto no seu ouvido.

    • Ignorar a Coceira: Não deixe o ciclo de coceira e trauma se instalar. Use gotas calmantes ou procure o médico.

  • Pingar Remédios por Conta Própria: O uso indevido de gotas, especialmente com antibióticos, pode piorar o quadro a longo prazo. Sempre siga a orientação médica.


1 comentário


Robert6
Robert6
12 de nov.

Fui diagnosticada com doença de Parkinson há quatro anos. Por mais de dois anos, dependi da levodopa e de vários outros medicamentos, mas, infelizmente, os sintomas continuaram piorando. Os tremores se tornaram mais perceptíveis e meu equilíbrio e mobilidade começaram a declinar rapidamente. No ano passado, por desespero e esperança, decidi experimentar um programa de tratamento à base de ervas da NaturePath Herbal Clinic.Sinceramente, eu estava cética no início, mas, poucos meses após o início do tratamento, comecei a notar mudanças reais. Meus movimentos ficaram mais suaves, os tremores diminuíram e me senti mais firme ao caminhar. Incrivelmente, também recuperei grande parte da minha energia e confiança. Tem sido uma experiência transformadora. Me sinto mais eu mesma novamente, melhor do…

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