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Sua Dor de Ouvido Não Melhora? A Resposta Pode Estar na Sua Mandíbula

  • Foto do escritor: Bruno Rossini
    Bruno Rossini
  • 25 de set.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 2 de out.

Em meus vinte anos de prática como otorrinolaringologista, uma das jornadas mais frustrantes que testemunho no consultório é a do paciente com uma dor de ouvido persistente. Ele busca ajuda, passa por exames, e ouve repetidamente a mesma frase: "Seu ouvido está com a aparência normal, não há sinais de infecção". A sensação de invalidação é imensa, pois a dor é real, constante e, ainda assim, o culpado parece invisível.

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Essa busca infrutífera nos ensina uma lição fundamental sobre o corpo humano: a dor nem sempre se manifesta em seu local de origem. Nosso organismo é uma rede complexa de nervos, músculos e articulações interligados, onde um problema em uma área pode "gritar" em outra. E, no caso de muitas dores de ouvido inexplicáveis, o verdadeiro epicentro do problema é um vizinho muito próximo e poderoso: a sua mandíbula.

Hoje, vamos mergulhar no universo da Disfunção da Articulação Temporomandibular, conhecida pela sigla DTM. Esta é uma condição que afeta a articulação que conecta a mandíbula ao crânio e os músculos responsáveis pela mastigação. O objetivo deste artigo é iluminar a surpreendente conexão entre essa disfunção e a dor de ouvido, oferecendo um novo caminho para o diagnóstico e, finalmente, para o alívio.

Para entender essa relação, basta olharmos a anatomia. A Articulação Temporomandibular (ATM) está localizada a meros milímetros do conduto auditivo. São, literalmente, vizinhos de parede. Qualquer processo inflamatório, tensão ou alteração mecânica nesta articulação pode irradiar diretamente para as estruturas do ouvido.

A conexão, no entanto, é ainda mais profunda. A ATM e o ouvido compartilham vias nervosas e inserções musculares. O mesmo nervo que inerva os músculos da mastigação, por exemplo, também envia ramos que dão sensibilidade à região do ouvido. É por isso que o cérebro, ao receber um sinal de dor vindo da mandíbula, pode confundi-lo e interpretá-lo como se a dor estivesse vindo do próprio ouvido.

A DTM não é uma doença única, mas sim um termo que abrange um conjunto de problemas relacionados à articulação da mandíbula e aos músculos mastigatórios. Ela representa um desequilíbrio nesse sistema tão delicado e constantemente utilizado em nosso dia a dia para falar, mastigar e bocejar.

As causas dessa disfunção são multifatoriais e frequentemente interligadas. O bruxismo, que é o ato de ranger ou apertar os dentes, especialmente durante o sono, é um dos principais vilões. O estresse e a ansiedade, que levam a um tensionamento inconsciente da musculatura facial, também desempenham um papel central. Outros fatores incluem má oclusão dentária, traumas na mandíbula ou doenças degenerativas como a artrite.

Os sintomas clássicos da DTM são bem conhecidos e centrados na mandíbula: estalos ou cliques ao abrir a boca, dor ao mastigar, dificuldade para abrir ou fechar a boca completamente e cansaço nos músculos da face.

Porém, é a "sinfonia" de sintomas referidos que frequentemente confunde o diagnóstico. E o principal deles é a otalgia, a dor de ouvido. Geralmente é descrita como uma dor surda, constante e profunda, que não piora ao puxar a orelha (diferente da otite externa) e cujo exame otológico é completamente normal.

Além da dor, a DTM pode gerar outros sintomas no ouvido que mimetizam doenças otológicas. Muitos pacientes se queixam de zumbido (tinnitus), uma sensação de ouvido tapado ou cheio (plenitude aural) e, em alguns casos, até mesmo tontura ou desequilíbrio, devido à proximidade da ATM com as estruturas do labirinto.

O quadro pode se completar com dores de cabeça, especialmente na região das têmporas, dores no pescoço e uma sensibilidade dolorosa em diversos pontos da musculatura da face, criando um cenário de dor crônica que impacta profundamente a qualidade de vida.

A jornada diagnóstica para quem sofre com esses sintomas deve, invariavelmente, começar pelo otorrinolaringologista. É nosso dever e nossa responsabilidade realizar um exame completo do ouvido, incluindo uma otoscopia detalhada ou uma videoendoscopia, para excluir categoricamente qualquer causa primária de dor, como infecções, acúmulo de cera, problemas no tímpano ou outras patologias.

Quando o exame do ouvido se mostra impecável, mas a queixa de dor persiste, o nosso raciocínio clínico deve se expandir. O próximo passo é um exame físico direcionado: a palpação cuidadosa da Articulação Temporomandibular e dos músculos da mastigação. A identificação de pontos de dor intensa nessas áreas, associada aos estalidos e à história clínica do paciente, fortalece enormemente a suspeita de DTM.

A confirmação diagnóstica e o planejamento terapêutico exigem, na maioria das vezes, uma abordagem multidisciplinar. A parceria entre o otorrinolaringologista e o cirurgião-dentista especialista em DTM é fundamental para o sucesso do tratamento e para o alívio definitivo do paciente.

Felizmente, a grande maioria dos casos de DTM responde muito bem a tratamentos conservadores. O objetivo não é apenas aliviar a dor, mas reequilibrar todo o sistema mastigatório e reduzir a sobrecarga sobre a articulação.

As estratégias de tratamento podem incluir o uso de placas oclusais (placas de mordida), confeccionadas sob medida pelo dentista para proteger os dentes e relaxar a musculatura; sessões de fisioterapia especializada; técnicas de gerenciamento de estresse; e o uso de medicamentos como anti-inflamatórios e relaxantes musculares nas fases agudas.

Navegar por essa fronteira entre a odontologia e a otorrinolaringologia pode ser confuso, e é aqui que um diagnóstico preciso faz toda a diferença. Na Clínica Oto One, dedicamo-nos a essa investigação detalhada, oferecendo um atendimento humanizado e personalizado, onde você é acolhido com excelência para desvendarmos juntos a real causa do seu sofrimento. Realizamos consultas presenciais em São Paulo e também on-line para sua maior comodidade.

Se você convive com uma dor crônica no ouvido e já ouviu diversas vezes que "não há nada de errado", não aceite essa resposta como definitiva. A sua dor é real e merece ser investigada com um olhar mais amplo e integrativo.

A compreensão da íntima conexão entre a sua mandíbula e o seu ouvido é o primeiro passo para encontrar a verdadeira fonte do problema. Com um diagnóstico correto e um plano de tratamento multidisciplinar, é perfeitamente possível silenciar a dor e recuperar a sua qualidade de vida.

Não permita que uma dor de ouvido sem diagnóstico continue a ditar as regras do seu bem-estar. Se você se identifica com essa história, talvez seja a hora de olharmos para o lado. Agende uma consulta para que possamos realizar essa avaliação completa e traçar o melhor caminho para o seu alívio.


Perguntas e Respostas Frequentes:


  1. Como posso diferenciar a dor de ouvido da DTM e a de uma infecção?

    A dor de uma infecção (otite) geralmente é aguda, pulsátil, pode vir com febre, secreção e perda de audição. A dor da DTM costuma ser mais crônica, surda, piora com a mastigação ou ao acordar (devido ao bruxismo) e o exame do ouvido é normal.

  2. O zumbido causado pela DTM tem tratamento?

    Sim. Muitas vezes, ao tratar a disfunção da mandíbula com placas, fisioterapia e relaxamento muscular, o zumbido, que é um sintoma secundário, melhora significativamente ou até desaparece.

  3. Apenas dentistas tratam a DTM?

    O tratamento é multidisciplinar. O dentista especialista em DTM é central (principalmente para as placas oclusais), mas o otorrinolaringologista é crucial para o diagnóstico diferencial (excluindo causas de dor no ouvido) e o fisioterapeuta é fundamental na reabilitação muscular.

  4. Apertar os dentes durante o dia também pode causar dor no ouvido?

    Sim. O bruxismo de vigília (apertar os dentes enquanto está acordado), geralmente ligado à concentração ou estresse, é um fator tão importante quanto o bruxismo noturno para causar a sobrecarga muscular e a dor referida no ouvido.

  5. Cirurgia é uma opção comum para DTM?

    Não. A cirurgia é reservada para uma minoria de casos, geralmente aqueles com problemas estruturais graves na articulação, como anquilose ou fraturas, que não respondem a nenhum tratamento conservador.

  6. Estalos na mandíbula são sempre um sinal de DTM?

    Não necessariamente. Muitas pessoas têm estalidos sem sentir dor ou ter qualquer limitação. O estalido se torna um sinal clínico importante quando vem acompanhado de dor, travamento da mandíbula ou dificuldade de mastigação.

  7. Exercícios para a mandíbula podem ajudar?

    Sim, mas devem ser orientados por um fisioterapeuta. Exercícios de relaxamento, alongamento e fortalecimento podem ser muito benéficos, mas, se feitos de forma incorreta, podem piorar o quadro.

  8. Meu travesseiro pode influenciar na dor da DTM?

    Sim. Dormir em uma posição que force a mandíbula ou o pescoço pode agravar a tensão muscular. Um travesseiro de altura adequada que mantenha a coluna cervical alinhada pode ajudar.

  9. A sensação de ouvido tapado pela DTM melhora?

    Sim. Essa sensação de plenitude aural geralmente é causada pela tensão dos músculos ao redor da tuba auditiva. Conforme a musculatura relaxa com o tratamento, a tuba auditiva volta a funcionar normalmente e a sensação de ouvido tapado desaparece.

  10. Botox pode ser usado no tratamento da DTM?

    Sim. Em casos selecionados de dor muscular severa por bruxismo, a aplicação de toxina botulínica nos músculos da mastigação (masseter e temporal) pode ser uma excelente opção para reduzir a força do apertamento e aliviar a dor.


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Dr. Bruno Rossini (CRM-SP 115697; RQE:34828)

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