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Tosse Crônica e a Sensação de "Garganta Sensível": Entenda a Síndrome da Hipersensibilidade da Tosse

  • Foto do escritor: Bruno Rossini
    Bruno Rossini
  • há 10 minutos
  • 6 min de leitura

Você já sentiu que sua tosse não obedece a uma lógica comum? Ela aparece quando você ri, quando fala muito, ao sentir o cheiro de um perfume ou simplesmente ao mudar de ambiente climatizado. Talvez você já tenha visitado pneumologistas, alergistas e gastroenterologistas, realizado inúmeros exames de imagem e espirometrias, e o resultado é sempre o mesmo: "está tudo normal". No entanto, o sintoma persiste, impactando sua vida social e profissional.

Essa peregrinação médica é exaustiva e frustrante. Como médico otorrinolaringologista com mais de duas décadas de prática, vejo frequentemente pacientes que chegam ao consultório acreditando que sua tosse é "psicológica" ou que não há solução. Se você se identifica com esse cenário, é possível que estejamos diante de um quadro clínico muito específico e real, conhecido modernamente como Síndrome da Hipersensibilidade da Tosse (SHT).

A SHT é um conceito atual, respaldado por diretrizes internacionais, como as da European Respiratory Society, e amplamente debatido em congressos da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia. Ela atua como um termo "guarda-chuva" para descrever uma condição onde o reflexo da tosse é disparado por estímulos que, em pessoas saudáveis, seriam inofensivos. Não é uma infecção, não é "apenas" uma alergia; é uma alteração funcional.

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Para compreendermos melhor, precisamos falar sobre a Neuropatia Laríngea. Imagine que os nervos da sua garganta funcionam como um sistema de alarme. Em uma casa segura, o alarme só toca se alguém arrombar a porta. Na SHT, esse "alarme" está desregulado e dispara até mesmo com o vento batendo na janela. Os nervos da laringe tornam-se hipersensíveis, reagindo exageradamente a estímulos triviais.

Essa hipersensibilidade ocorre frequentemente no trajeto do nervo laríngeo superior ou recorrente, ramos do nervo Vago. Quando esses nervos sofrem algum tipo de injúria prévia — que pode ter sido uma gripe forte há meses, uma crise de refluxo ou exposição a poluentes —, eles podem não voltar ao limiar de sensibilidade normal, permanecendo em estado de alerta constante.

É fundamental desmistificar a ideia de que essa tosse é voluntária. O paciente com hipersensibilidade laríngea sente uma urgência incontrolável de tossir. Muitas vezes, essa urgência é precedida por uma sensação estranha na garganta, que descrevemos como parestesia: uma coceira, um arranhado, uma sensação de "areia" ou de pigarro que nunca sai, independentemente de quanto se tosse.

Os gatilhos são clássicos e ajudam muito no diagnóstico. Diferente da asma ou da DPOC, a tosse neuropática é deflagrada pela fala (fonotraumática), pelo riso, por odores fortes (produtos de limpeza, perfumes), fumaça, ar condicionado frio ou até mesmo pela ingestão de alimentos secos. Se conversar ao telefone por dez minutos desencadeia uma crise, isso é um forte indicativo de SHT.

Muitas vezes, essa condição é confundida ou coexiste com o Refluxo Laringofaríngeo. Embora o refluxo possa ser o "gatilho" inicial que irritou o nervo, tratar apenas o estômago com omeprazol e similares frequentemente não resolve a tosse, pois o problema agora reside na "memória" de dor do nervo, e não mais apenas na acidez. O mecanismo mudou, e o tratamento precisa acompanhar essa mudança.

A ciência médica, incluindo estudos de centros de referência como a Mayo Clinic e Stanford, aponta que essa condição compartilha mecanismos semelhantes à dor crônica neuropática. Assim como um diabético pode ter dores nos pés por neuropatia, o paciente com SHT tem uma "dor" na garganta que se manifesta como tosse. Entender isso é o primeiro passo para o alívio.

O diagnóstico é eminentemente clínico e de exclusão. Isso significa que, como otorrinolaringologista, preciso primeiro garantir que não há lesões pulmonares, tumores ou sinusites ativas. Uma vez descartadas essas causas, e através de uma videolaringoscopia detalhada — onde podemos observar sinais sutis de disfunção laríngea ou fechamento glótico paradoxal —, montamos o quebra-cabeça do diagnóstico.

Um ponto crucial é o impacto na qualidade de vida. A tosse crônica isola. O paciente evita teatros, cinemas, reuniões de trabalho silenciosas e jantares românticos por medo de uma crise. Validar esse sofrimento é parte essencial da medicina moderna. Você não está imaginando seus sintomas; existe uma base fisiológica para eles.

A abordagem terapêutica para a hipersensibilidade da tosse evoluiu significativamente. Hoje, utilizamos neuromoduladores. São medicamentos que não visam "cortar" a tosse ou tratar o pulmão, mas sim "acalmar" o nervo, reduzindo sua excitabilidade elétrica. É um tratamento que exige paciência e titulação cuidadosa de doses.

Aqui na Clínica Oto One, em São Paulo, compreendemos profundamente essa angústia. Nosso diferencial reside justamente na união da excelência técnica com um atendimento humanizado e acolhedor, focado na particularidade de cada história. Seja na modalidade presencial ou on-line, oferecemos uma medicina personalizada, desenhada para quem busca não apenas um diagnóstico, mas uma parceria verdadeira na recuperação da qualidade de vida.

Além da medicação, a terapia fonoaudiológica especializada em tosse é uma aliada poderosa. Técnicas de supressão da tosse e higiene vocal ajudam a "reprogramar" o cérebro e a laringe, quebrando o ciclo vicioso de "tossir irrita, irritação gera tosse". A literatura científica mostra que a combinação de remédio e terapia é superior ao uso isolado de qualquer um deles.

Também abordamos as comorbidades. Se houver rinite ou refluxo associados, eles devem ser controlados rigorosamente, pois atuam como combustível para a fogueira da neuropatia. O tratamento é, portanto, multimodal e exige uma visão holística do paciente, não apenas focada na garganta.

É importante alinhar expectativas: o tratamento da neuropatia laríngea não é uma "pílula mágica" de efeito imediato. A melhora é gradual, podendo levar semanas para ser percebida plenamente. O objetivo é reduzir a frequência e a intensidade das crises, devolvendo ao paciente o controle sobre sua voz e sua vida social.

Evitar a automedicação é mandatório. Xaropes comuns, pastilhas mentoladas ou antibióticos desnecessários podem até piorar o quadro, ressecando a mucosa ou alterando a flora natural. O uso de neuromoduladores exige supervisão médica estrita devido aos possíveis efeitos colaterais e interações medicamentosas.

A hidratação constante é a medida caseira mais segura e eficaz. Manter a laringe hidratada diminui o atrito e a irritação local. A lavagem nasal com soro fisiológico também auxilia, removendo irritantes que poderiam gotejar para a garganta e disparar o reflexo.

Reconhecer a Síndrome da Hipersensibilidade da Tosse é um divisor de águas na vida de quem tosse há meses ou anos. Saber que existe um nome, uma causa e um tratamento traz um alívio imenso. A medicina avançou, e hoje temos ferramentas para devolver o silêncio e a tranquilidade aos seus dias.

Se você se reconhece nestes sintomas e busca uma avaliação detalhada, convido-o a agendar uma consulta. Vamos, juntos, investigar as causas da sua tosse e traçar o melhor plano terapêutico para o seu caso. Sua saúde merece esse cuidado especializado.

10 Perguntas e Respostas sobre Hipersensibilidade da Tosse

1. A Síndrome da Hipersensibilidade da Tosse tem cura? Embora o termo "cura" definitiva seja delicado em neuropatias, a condição é altamente tratável. O objetivo é o controle dos sintomas e a remissão do quadro, permitindo que o paciente leve uma vida normal sem crises frequentes.

2. Como diferenciar a tosse da SHT de uma alergia comum? A tosse alérgica geralmente vem acompanhada de espirros, coriza e coceira no nariz. Já a SHT é caracterizada por uma sensação de "ceceira" ou "arranhado" na garganta e é desencadeada por falar, rir ou mudanças de temperatura, muitas vezes sem sintomas nasais associados.

3. O refluxo gástrico sempre causa esse tipo de tosse? Nem sempre, mas é uma causa comum. O refluxo pode iniciar a inflamação que leva à neuropatia. Porém, na SHT, mesmo após tratar o refluxo, a tosse persiste porque o nervo continua sensível (neuropático).

4. Quais exames detectam a neuropatia laríngea? Não existe um exame de imagem (como raio-X) que mostre a neuropatia. O diagnóstico é clínico, baseado na história do paciente, e por exclusão de outras doenças através de laringoscopia e exames pulmonares.

5. O tratamento com neuromoduladores causa dependência? Não. As medicações utilizadas (como pre-gabalina, gabapentina ou amitriptilina em doses baixas) não causam dependência química quando usadas corretamente sob supervisão médica, e são retiradas gradualmente quando os sintomas melhoram.

6. Posso fazer o tratamento apenas com fonoaudiologia? Em casos leves, a terapia fonoaudiológica pode ser suficiente. No entanto, em casos moderados a graves, a literatura médica indica que a associação de medicamentos com a terapia traz resultados superiores.

7. Por que sinto vontade de tossir quando falo ao telefone? Isso é clássico da SHT. A vibração das cordas vocais durante a fala atua como um estímulo mecânico que irrita os nervos hipersensíveis da laringe, disparando o reflexo da tosse.

8. Pastilhas de menta ajudam a aliviar essa tosse? Geralmente não. O mentol pode causar uma sensação momentânea de frescor, mas muitas vezes resseca a mucosa ou irrita ainda mais os receptores nervosos sensíveis, podendo piorar a tosse a longo prazo.

9. O estresse emocional piora a tosse neuropática? Sim. O estresse e a ansiedade aumentam a tensão muscular na região do pescoço e alteram os limiares de percepção de dor e irritação no cérebro, tornando o reflexo da tosse mais fácil de ser disparado.

10. Quanto tempo demora para o tratamento fazer efeito? A resposta varia, mas geralmente observamos uma melhora inicial após 2 a 4 semanas de uso da medicação na dose correta. O tratamento completo pode durar de 3 a 6 meses ou mais, dependendo da gravidade.

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Dr. Bruno Rossini (CRM-SP 115697; RQE:34828)

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