Refluxo Oculto: Desvendando o Refluxo Laringofaríngeo e seu Impacto na Saúde e Qualidade de Vida
- Bruno Rossini
- 16 de jul.
- 6 min de leitura
Atualizado: 22 de jul.
Por Dr. Bruno Rossini, Otorrinolaringologista na Clínica Oto One
Ao longo de mais de 20 anos de prática clínica em Otorrinolaringologia, um dos diagnósticos mais desafiadores e, ao mesmo tempo, prevalentes no meu consultório é o Refluxo Laringofaríngeo. Muitos pacientes chegam com queixas crônicas de garganta, tosse ou alterações na voz, sem jamais imaginar que a origem do problema está no seu estômago.

Para desmistificar essa condição, que afeta silenciosamente a qualidade de vida de tantos paulistanos, preparei respostas para as dúvidas mais pertinentes sobre o tema.
1. Dr. Bruno, o que é exatamente o Refluxo Laringofaríngeo (RLF)?
Dr. Bruno Rossini: O Refluxo Laringofaríngeo é uma variante do refluxo gastroesofágico. Ocorre quando o conteúdo do estômago — não apenas o ácido, mas também pepsina e sais biliares — "sobe" além do esôfago, atingindo a região da garganta (faringe) e da caixa de voz (laringe). Por atuar em uma área não preparada para receber essa agressão, ele causa um processo inflamatório crônico, que chamamos de laringite por refluxo.
2. Existem outros nomes para essa condição?
Dr. Bruno Rossini: Sim, e é importante conhecê-los para evitar confusão. Frequentemente o chamo de "refluxo oculto" ou "refluxo silencioso", pois a maioria dos pacientes não apresenta os sintomas clássicos de azia ou queimação no peito. Outros termos técnicos que utilizamos incluem Refluxo Extraesofágico ou Doença do Refluxo Supraesofágico.
3. Quais são os sintomas mais comuns que o trazem ao seu consultório na Oto One?
Dr. Bruno Rossini: Os sintomas são predominantemente otorrinolaringológicos e muitas vezes sutis. Os mais frequentes são: sensação de "bola na garganta" (conhecido como globus faríngeo), pigarro crônico, tosse seca e persistente (especialmente após falar ou deitar), rouquidão ou voz "fraca" que flutua ao longo do dia, e a necessidade constante de limpar a garganta.
4. E existem sintomas menos óbvios que podem estar ligados ao RLF?
Dr. Bruno Rossini: Certamente. Muitos pacientes se surpreendem quando associo seus problemas ao refluxo. Sintomas atípicos incluem dor de garganta crônica que não melhora com analgésicos, dificuldade para engolir (disfagia), sinusites de repetição, crises de laringoespasmo (falta de ar súbita, geralmente à noite) e até mesmo um aumento na incidência de problemas dentários e mau hálito.
5. Por que esse refluxo acontece? Qual a fisiopatologia por trás do problema?
Dr. Bruno Rossini: A fisiopatologia é multifatorial. Envolve uma disfunção dos esfíncteres esofágicos — as "válvulas" que deveriam impedir o retorno do conteúdo gástrico. O esfíncter inferior, entre o esôfago e o estômago, pode relaxar de forma inadequada. O esfíncter superior, já na entrada da garganta, que é nossa última barreira de defesa, também pode falhar. Fatores como hérnia de hiato, obesidade, maus hábitos alimentares e estresse contribuem significativamente para essa falha mecânica.
6. Por que a garganta e a laringe são tão mais sensíveis do que o esôfago?
Dr. Bruno Rossini: É uma excelente pergunta. O revestimento do esôfago (mucosa esofágica) possui mecanismos de defesa para suportar um certo grau de exposição ácida. Já a mucosa da laringe e da faringe é extremamente delicada, semelhante à do interior das nossas bochechas. Ela não tem proteção. Um único evento de refluxo que atinge essa área pode ser suficiente para causar horas de inflamação e irritação.
7. Como o senhor realiza o diagnóstico preciso na Clínica Oto One?
Dr. Bruno Rossini: O diagnóstico começa com uma anamnese detalhada, onde investigo a fundo os sintomas e o estilo de vida do paciente. O passo seguinte é um exame fundamental: a Nasofibrolaringoscopia de Alta Definição. Com uma microcâmera, visualizo diretamente a laringe e a faringe, procurando por sinais inflamatórios característicos, como vermelhidão, inchaço das pregas vocais e espessamento da região posterior da laringe.
8. Existe um exame "padrão-ouro" para confirmar o RLF?
Dr. Bruno Rossini: Sim. Quando há dúvida diagnóstica ou para casos refratários ao tratamento inicial, o exame considerado padrão-ouro é a pHmetria esofágica de 24 horas com duplo canal, associada ou não à impedanciometria. Este exame monitora e quantifica os episódios de refluxo ácido e não-ácido que atingem tanto o esôfago quanto a garganta ao longo de um dia inteiro, provendo uma prova definitiva da doença.
9. O tratamento se resume a tomar medicamentos como o omeprazol?
Dr. Bruno Rossini: De forma alguma. Essa é uma visão simplista do tratamento. Os inibidores de bomba de prótons (como omeprazol, pantoprazol, etc.) são uma parte importante para controlar a produção de ácido, mas o tratamento do RLF é um tripé: 1) Mudanças Comportamentais e Dietéticas; 2) Tratamento Medicamentoso; 3) Acompanhamento Otorrinolaringológico. Apenas medicar, sem mudar os hábitos que causam o refluxo, leva a resultados pobres e recidivas.
10. Que tipo de mudanças de estilo de vida são mais eficazes?
Dr. Bruno Rossini: As medidas comportamentais são a base do sucesso. As principais são: elevar a cabeceira da cama em 15 a 20 cm, não se deitar nas 2 a 3 horas seguintes às refeições, fracionar a dieta (comer mais vezes em menor quantidade), evitar alimentos "gatilho" (gorduras, frituras, cafeína, álcool, chocolate, bebidas gaseificadas, molho de tomate) e controlar o peso corporal.
11. Como profissional da voz (advogado, cantor, professor), devo ter uma preocupação extra?
Dr. Bruno Rossini: Absolutamente. Para profissionais da voz, o RLF é particularmente danoso. A inflamação crônica nas pregas vocais diminui a resistência vocal, causa fadiga ao falar, dificulta o alcance de notas e pode levar ao surgimento de lesões secundárias, como nódulos e pólipos. O controle do refluxo é um pilar fundamental da higiene vocal para esses profissionais.
12. O RLF pode evoluir para algo mais grave?
Dr. Bruno Rossini: Sim, e é crucial ter essa consciência. A inflamação crônica em qualquer tecido do corpo é um fator de risco para alterações celulares. Embora seja raro, o RLF persistente e não tratado é considerado um cofator no desenvolvimento de condições pré-cancerígenas e até mesmo do câncer de laringe ou hipofaringe. O tratamento adequado é também uma forma de prevenção.
13. Quanto tempo dura o tratamento?
Dr. Bruno Rossini: O tratamento inicial, combinando medicação e mudanças de hábitos, geralmente dura de 2 a 6 meses. Após esse período, reavaliamos o paciente com uma nova nasofibrolaringoscopia para verificar a melhora dos sinais inflamatórios. O objetivo é, então, encontrar a menor dose de medicação necessária para manter o controle, ou, idealmente, sustentar o bem-estar apenas com as medidas comportamentais.
14. A cirurgia é uma opção para o tratamento do RLF?
Dr. Bruno Rossini: Sim, a cirurgia antirrefluxo (Fundoplicatura) é uma excelente opção para um grupo selecionado de pacientes. Geralmente, indicamos para aqueles que respondem bem à medicação mas não desejam o uso crônico, ou para pacientes com alterações anatômicas comprovadas, como uma hérnia de hiato significativa, e que têm o refluxo objetivamente confirmado por exames.
15. O estresse do dia a dia em São Paulo pode piorar meu refluxo?
Dr. Bruno Rossini: Sem dúvida. O estresse crônico impacta a motilidade do sistema digestivo e aumenta a sensibilidade dos tecidos. Muitos pacientes de alto rendimento que atendo notam uma piora significativa dos sintomas de pigarro e tosse em períodos de maior pressão profissional. Gerenciar o estresse é uma parte não medicamentosa, mas muito importante, do tratamento.
16. Por que é importante que o otorrinolaringologista conduza o caso?
Dr. Bruno Rossini: Porque os sintomas e o impacto principal do RLF se dão na nossa área de atuação: garganta e laringe. O otorrino é o único especialista capaz de visualizar e monitorar a resposta inflamatória local ao tratamento através da laringoscopia. Além disso, somos nós que fazemos o diagnóstico diferencial com outras doenças que causam sintomas parecidos, garantindo que a abordagem seja a correta.
17. Posso ter RLF mesmo sem sentir nenhuma azia?
Dr. Bruno Rossini: Sim, esta é a característica principal do chamado "refluxo silencioso". Estima-se que mais de 50% dos pacientes com RLF não apresentam azia ou regurgitação, os sintomas clássicos da Doença do Refluxo Gastroesofágico. A queixa é puramente na garganta ou na voz.
18. Existe relação entre apneia do sono e Refluxo Laringofaríngeo?
Dr. Bruno Rossini: A relação é muito forte e bidirecional. O esforço respiratório negativo que ocorre durante um evento de apneia cria uma pressão que "suga" o conteúdo do estômago para cima. Por outro lado, o inchaço na garganta causado pelo refluxo pode piorar o estreitamento das vias aéreas, agravando a apneia. É mandatório investigar um na presença do outro.
19. Na Oto One, como funciona a jornada do paciente com suspeita de RLF?
Dr. Bruno Rossini: A jornada é integrada e focada em resolutividade. Inicia-se com uma consulta aprofundada. Se indicado, realizamos a Nasofibrolaringoscopia de Alta Definição no mesmo dia. Com o diagnóstico em mãos, traçamos um plano terapêutico individualizado, com orientações detalhadas. Agendamos retornos programados para monitorar a evolução clínica e endoscópica, ajustando a rota até alcançarmos o controle total dos sintomas e a recuperação da sua qualidade de vida.
20. Dr. Bruno, qual sua principal recomendação para quem se identificou com esses sintomas?
Dr. Bruno Rossini: Minha recomendação é clara: não aceite conviver com o desconforto crônico. Tosse, pigarro e rouquidão não são normais. São sinais de que algo precisa de atenção. A investigação correta pode não apenas resolver esses sintomas, mas também prevenir problemas futuros e devolver o prazer de se alimentar, de falar e, principalmente, de se sentir bem. Na Clínica Oto One, estamos preparados para conduzir essa investigação com a profundidade e a excelência que você merece.
