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A Voz que se Cala e o Eco que Permanece: Um Tributo a Ângela Ro Ro e um Alerta Sobre a Saúde Vocal

  • Foto do escritor: livia almeida
    livia almeida
  • há 4 dias
  • 6 min de leitura

A música brasileira, em sua infinita riqueza, é feita de melodias, harmonias e, sobretudo, de vozes que se tornam a trilha sonora de nossas vidas. Poucas foram tão singulares, tão visceralmente reconhecíveis, quanto a de Ângela Ro Ro. Sua partida nos deixa órfãos de sua arte e nos convida a uma reflexão profunda sobre o instrumento que a consagrou: a voz humana.

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Ao longo de minhas duas décadas como médico otorrinolaringologista, aprendi que a voz é muito mais do que um meio de comunicação. Ela é a expressão da alma, a assinatura de nossa identidade, uma ponte invisível que conecta nossos pensamentos mais íntimos ao mundo exterior. A tessitura grave e rouca de Ângela Ro Ro era, para o público, a personificação de sua força e autenticidade.

Muitos se perguntam sobre a origem daquela rouquidão tão característica. Seria fruto de uma condição médica específica, como o Edema de Reinke? Em seu caso, a história nos conta que sua qualidade vocal era uma marca congênita, um traço de sua anatomia que a acompanhava desde a infância e que, com maestria, ela transformou em arte.

A voz dela era a sua verdade, uma condição natural e não necessariamente patológica. Esta é uma distinção fundamental que precisamos compreender. Nem toda alteração vocal é sinônimo de doença, mas toda alteração que surge e persiste deve ser investigada com atenção e cuidado.

É precisamente neste ponto que a homenagem a um ícone se transforma em um importante alerta para a sua saúde. Enquanto a voz de Ângela era sua essência, uma rouquidão que se instala subitamente e se recusa a ir embora em um adulto pode ser o primeiro sinal de que as pregas vocais, as delicadas estruturas responsáveis pela produção do som, estão pedindo socorro.

Em meu consultório, a disfonia, termo que usamos para descrever a dificuldade na emissão da voz, é uma das queixas mais frequentes. É o sintoma que acende o sinal amarelo, indicando a necessidade de uma investigação minuciosa para compreender o que realmente está acontecendo.

As causas para uma rouquidão crônica são vastas e variadas. Elas podem ir desde condições benignas, como nódulos vocais – os famosos "calos" – frequentemente associados ao uso profissional ou inadequado da voz, até pólipos ou cistos, que também alteram a vibração das pregas vocais.

Outro diagnóstico comum é o Edema de Reinke, uma inflamação crônica fortemente associada ao tabagismo, que torna a voz mais grave e "pesada", um quadro que demanda atenção especializada para evitar sua progressão e discutir as melhores abordagens terapêuticas.

O refluxo laringofaríngeo, uma condição muitas vezes silenciosa em que o ácido do estômago atinge a região da laringe, é outro grande vilão da saúde vocal, causando irritação crônica, pigarro e, consequentemente, a rouquidão.

Processos inflamatórios, como laringites virais ou bacterianas, também causam alterações agudas na voz. Contudo, quando a rouquidão ultrapassa a barreira de 15 dias, ela deixa de ser um sintoma passageiro e se torna um sinal de alerta crônico que não pode, em hipótese alguma, ser negligenciado.

Devemos também considerar causas neurológicas, como as paresias ou paralisias de pregas vocais, que podem ocorrer após cirurgias, infecções ou mesmo sem uma causa aparente, impactando drasticamente a qualidade da voz e a capacidade de respiração.

E, embora seja o cenário que mais tememos, é meu dever como médico informar que uma rouquidão persistente, especialmente em pacientes tabagistas e etilistas, pode ser o primeiro e, por vezes, o único sintoma de um câncer de laringe. O diagnóstico precoce, neste caso, é o fator mais determinante para o sucesso do tratamento.

A jornada para o diagnóstico preciso começa com uma conversa detalhada. Entender sua história, seus hábitos, as demandas de sua voz no dia a dia é o primeiro passo para um raciocínio clínico acurado. A escuta atenta é a base de toda a boa medicina.

O passo seguinte é, invariavelmente, "enxergar a voz". Através de exames como a videolaringoscopia ou a videoestrobolaringoscopia, conseguimos visualizar as pregas vocais em alta definição, avaliando sua anatomia e movimento em tempo real. É um exame rápido, realizado no próprio consultório, que nos fornece um mapa detalhado do problema.

Com um diagnóstico claro em mãos, podemos traçar um plano terapêutico individualizado. As opções são diversas e podem incluir fonoterapia, para reabilitar e otimizar o uso da voz; tratamento medicamentoso para condições como o refluxo; ou, em casos selecionados, procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos para a remoção de lesões.

Na Clínica Oto One, compreendemos que por trás de uma voz cansada ou de uma garganta que incomoda, existe uma pessoa em busca de respostas e alívio. Por isso, nosso maior diferencial reside em um atendimento genuinamente humanizado e personalizado, onde o acolhimento e a excelência técnica caminham juntos para oferecer o melhor cuidado, seja em consultas presenciais ou on-line.

Cuidar da voz é cuidar de si mesmo. É zelar por sua ferramenta de trabalho, por seu meio de expressão e por sua qualidade de vida. Adiar essa avaliação pode significar o agravamento de uma condição simples ou a perda de um tempo precioso no diagnóstico de algo mais sério.

Lembre-se que o objetivo do tratamento não é apenas restaurar a voz, mas também fornecer a você o conhecimento e as ferramentas para mantê-la saudável a longo prazo. A prevenção e a higiene vocal são pilares fundamentais para todos, profissionais da voz ou não.

Portanto, se você se identifica com qualquer um dos sinais mencionados, se sua voz já não é a mesma e a rouquidão se tornou uma companheira constante, não hesite. Ouça o que seu corpo está tentando lhe dizer.

Permita-se dar o primeiro passo em direção ao cuidado. Sua voz é preciosa e merece ser ouvida com clareza. Estou aqui para ouvi-lo, para investigar a fundo a causa do seu desconforto e para, juntos, encontrarmos o caminho para a recuperação de sua saúde vocal. Agende uma consulta e vamos conversar.

Perguntas e Respostas Frequentes:

1. Uma rouquidão que dura mais de duas semanas é sempre preocupante?

Sim. Embora a causa possa ser benigna, uma disfonia que persiste por mais de 15 dias é considerada crônica e exige uma avaliação otorrinolaringológica para excluir condições mais graves e estabelecer um diagnóstico correto.

2. O cigarro realmente afeta tanto a voz?

Absolutamente. O cigarro é um dos maiores agressores das pregas vocais. Ele causa inflamação crônica (Edema de Reinke) e é o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de laringe. O impacto é direto e extremamente danoso.

3. Qual é o principal exame para avaliar a rouquidão?

O exame padrão-ouro é a videolaringoscopia ou a videoestrobolaringoscopia. Ele permite a visualização direta das pregas vocais, identificando lesões, inflamações ou problemas de mobilidade que não seriam visíveis de outra forma.

4. Sussurrar ajuda a poupar a voz quando se está rouco?

Não. Contrariando a crença popular, o sussurro força as pregas vocais de uma maneira antinatural e pode causar ainda mais tensão e fadiga. O ideal em casos de laringite aguda é o repouso vocal quase absoluto.

5. Como o refluxo gastroesofágico pode causar rouquidão?

Quando o conteúdo ácido do estômago sobe até a laringe (refluxo laringofaríngeo), ele "queima" quimicamente a mucosa da região, causando inflamação crônica, edema nas pregas vocais, pigarro e, consequentemente, rouquidão, principalmente pela manhã.

6. Crianças também podem ter calos nas cordas vocais?

Sim. Nódulos vocais são a causa mais comum de rouquidão crônica em crianças, geralmente associados a um comportamento de gritar excessivamente. A abordagem principal nesses casos é a fonoterapia.

7. Qual a diferença entre um nódulo e um pólipo vocal?

De forma simplificada, nódulos são como "calos", geralmente bilaterais e causados por atrito fonatório crônico. Pólipos são lesões mais "infladas", muitas vezes unilaterais, que podem surgir após um trauma vocal agudo, como um grito forte.

8. Além de rouquidão, quais outros sintomas merecem atenção?

Dor ao falar ou engolir, sensação de corpo estranho na garganta, pigarro constante, cansaço ao falar, perda de tons agudos e, em casos mais graves, dificuldade para respirar ou presença de sangue na saliva.

9. Existem dicas de "higiene vocal" para o dia a dia?

Sim. Beba bastante água (pelo menos 2 litros por dia), evite gritar ou falar alto por longos períodos, reduza o consumo de cafeína e álcool, não fume, evite pigarrear e procure um especialista se sentir sua voz cansada com frequência.

10. A cirurgia para as pregas vocais é arriscada?

As microcirurgias de laringe são procedimentos delicados e precisos, realizados com o auxílio de microscópios. Quando indicadas corretamente e realizadas por um especialista experiente, os riscos são baixos e os resultados para a restauração da qualidade vocal costumam ser excelentes.

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Dr. Bruno Rossini (CRM-SP 115697; RQE:34828)

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